domingo, 21 de agosto de 2011

Dep. Luiza Maia x Pagodeiros = Malu Fontes esclarece


Na segunda-feira (8), foi publicado um texto muito pertinente da jornalista Malu Fontes sobre a nova polêmica na sociedade baiana. Nele, ela esclareceu de uma vez por todas o que significa o projeto da Deputada camaçariense Luiza Maia (PT) que pede que o Governo da Bahia não contrate bandas de pagode que tenham letras em seu repertório que agridem as mulheres.
Vi muito sensacionalismo por parte de alguns veículos de imprensa (TV, Radio, etc) e também uma dissimulação de muitos cantores desse ritmo tão popular quando indagados sobre a baixaria em suas letras.
Abaixo, íntegra do texto, leia com atenção antes de comentar:
Em Salvador, o teminha midiático dos últimos dias tem sido a subida nas tamancas por parte das bandas de pagode e seus seguidores – e seguidoras – diante do projeto de lei da deputada estadual Luiza Maia (PT). A deputada apresentou àAssembléia Legislativa um projeto de lei propondo que bandas e grupos musicais, desses que brotam todos os dias fazendo o gênero novíssima poesia baiana e cujos versos mais líricos dizem que mulher é igual a lata, algo que o homem chuta e outro cata e incorporam coisas prosaicas como ralar a checa e chamam ‘mãinha’ para quebrar, fiquem impedidos de ser contratados pelo governo do Estado, ou seja, que não tenham cachês pagos com dinheiro público do Estado para repetir tais hinos celebratórios à mulher.
Aparentemente não seria preciso explicar que a deputada não quer proibir grupo de pagode nenhum de dizer coisa nenhuma. A proposta é outra, para quem lê o projeto. Ou seja, qualquer ídolo das meninas que quebram, ralam a checa, dançam na boca da garrafa, adoram ser chamadas de cachorrinhas e acham o máximo dar a patinha, pode cantar o que quiser e nem a deputada nem ninguém quer proibir nada. O que Luiza Maia defende é que o poder público, o Governo do Estado da Bahia, fique proibido de contratar artistas para gritar no palco versosmisóginos, embora os meninos que a cantem provavelmente nunca tenham sabido ou nunca venham a saber que incorreram em misoginia.
PAULARIA - No entanto, a proposta que prevê que o Governo do Estado não possa remunerar para shows ou outras atividades grupos musicais cujas canções, em tese, denigram a imagem da mulher, foi transformada, em linguagem midiática popularesca em algo como ‘deputada quer proibir bandas de pagode de cantar músicas que ofendam as mulheres’ ou ‘deputada quer censurar bandas de pagode baianas’. E em seguida, veio a paularia na parlamentar, com a cantilena do senso comum de sempre: os deputados não têm o que fazer, a Bahia tem trocentas prioridades outras para merecer proibição e projetos de lei, por que a deputada não vai proibir o povo do funk, que é bem mais desrespeitoso com a mulher, por que ninguém nunca se preocupou com a misoginia que sempre esteve presente na MPB, na obra de Chico, Caetano e João das Couves e, a mais elementar de todas as teses: o pagode não ofende as mulheres. Ao contrário, ele as homenageia, as celebras, e elas adoram, pois todos os versos que falam da sensualidade (da mulher baiana, pois a baianidade adora esta expressão) são uma brincadeira saudável…
Bom, primeiro é bom que alguns críticos aprendam a mais elementar das lições politiquinhas quando forem contrapor um objeto de um projeto de lei a outro. A deputada Luiza Maia tem uma mandato conquistado para ser exercido naAssembléia Legislativa do Estado da Bahia e só pode, e se puder, se seus projetos forem aprovados, se meter com as causas e as coisas da Bahia. O funk do Rio, se é que alguém está incomodado com ele, não poderia ser objeto do mandato da deputada. Os deputados estaduais cariocas que vejam se Sérgio Cabral, além de voar de jatinho de empreiteiro, pode ou não pode remunerar o povo do funk para chamar as patricinhas do Leblon de cachorra, mesmo que essas não vejam nisso mal nenhum, como atesta em carne e fala Heloísa Faissol, a riquinha da zona sul que adora o epíteto de Galinha do Funk. Depois, independentemente do futuro do projeto da deputada entre os seus pares, que são quem, na verdade, vão decidir se ele vai ou não se tornar lei, a tese da brincadeira elogiosa e celebratória é para rir, não é não?
CANASTRONA - Na hora em que se trata da relativizar e aliviar o peso das ofensas midiáticas proferidas contra a mulher e sua sexualidade e corpo, é impressionante como as vítimas dos outros preconceitos se tornam tolerantes de carteirinha. Há, na história da MPB, letras de viés misógino e com ofensas contra as mulheres? E como! Mas o tempo não faz as coisas mudarem? A inquisição matava gente e hoje isso soa uma aberração. O cancioneiro popular, até bem pouco tempo, dizia o que queria sobre negros, mulatas e pobres. Mas hoje, faça-se uma música com uma ‘brincadeira’ bem humorada com um deles e veja como o mundindo civilizado reage. Então, por que, só com a mulher, a tese da brincadeira e da homenagem deve prevalecer?
Quer dizer que não se pode mais brincar com elementos da negritude, da homossexualidade, da pobreza, porque isso fere a dignidade da pessoa humana, mas com a mulher pode, Luiza? Infelizmente, o que norteia não apenas o projeto da deputada, mas sobretudo, as reações contra ele, é algo muito mais sólido e sério do que a forma canastrona como veículos de imprensa vêm fazendo enquetes com a pergunta mal formulada a leitores e telespectadores, associando o projeto a um ato de censura, inflando a polêmica rasa. A verdade dos fatos é só uma: cada povo tem o cancioneiro que merece. Muitas moiçolas adoram as brincadeiras do pagode e do funk. Por que? Ah, a resposta provavelmente seria enquadrada como atentado à dignidade feminina, ao passo que ser comparada a uma lata é só uma brincadeira ‘positiva’.
Malu Fontes é jornalistadoutora em Comunicação e Cultura e professora da Facom-UFBA. Texto publicado originalmente em 07 de agosto de 2011, no jornal A Tarde, Salvador/BA.
__________________________________________________________
Agora sim, largue o doce, comente, mas sem baixarias porque já bastam os pagodes que nós baianos temos que ouvir todos os dias.

P.S. Texto anteriormente publicado no endereço antigo deste blog no wordpress.

Deste modo, vou reproduzir aqui os comentários de lá.


  1. Total apoio a essa Deputada, porque a Bahia precisa se alfabetizar nesse sentido musical.O pagode baiano esculacha com as mulheres, e nenhuma mulher é obrigada a ouvir isso. Esta na hora de crescermos confira um post que fiz uns meses atrais sobre isso.
  2. Apoio-a também porque esse projeto é algo que ajudaria um país como o nosso a alcançar certo avanço cultural em relação ao respeito a feminilidade. Num país onde a violência a mulher é quase um esporte público diário, tudo que vier para nos ajudar é lucro!
    Apoiadíssima! *APLAUSOS*
  3. a deputada esta de parabens. meu unico dia que tenho de lazer ficar um carri nas alturas me ofendendo basta
  4. Parabéns Malu. Pergunto-me a mesma coisa: uma letra ofensiva contra o gay ou contra o negro é rapidamente cortada do mercado, por que então com a mulher é tolerada?
    Não sou falso moralista e muito menos moralista. Gosto do pagode e da “descaração” baiana. Mas, não posso admitir que certas “composições” passem por aí impune.
    Uma coisa é baixaria e outra coisa é agressão e essa última deve ser perseguida e censurada onde quer que se apresente.
    Acho o projeto da deputada tímido, todavia a apoio pois o mínimo que posso deizer é que não quero que meu dinheiro financie canções como:
    Quer comer, quer beber
    Se esconder no meu fumê
    Da rolé pra onde quer se passando por minha mulher
    Mas na hora “H” diz que ta passando mal
    Tô ligado na sua fama vou te botar na Geral
    E a geral é assim
    É assim que é a Geral
    Em cima pau
    Em baixo pau
    Na frente pau
    De quatro craw

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...